quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Anatomia

Hoje as tuas pegadas me parecem tão distantes do meu caminho... "De repente, não mais que de repente..." .

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Percorro lentamente os caminhos do teu corpo.
Respiro, um por um, cada pêlo teu
e deixo-me entorpecer, porque és linda.
Tão linda que chegas a ser cruel.
Toco teus dedos, sentindo teus frémitos
e rio, rio...
Navego em teus espaços
e adentro cada ângulo do teu ser,
vivendo dentro de ti, aos poucos,
como numa ilha perdida mora o náufrago solitário.
Cheiro teu suor e gasto teu perfume com meus lábios.
Que larápio sou eu?
Arranho-te a pele até chegar ao reino absoluto de tua alma.
Vejo teu seio palpitar e invado teu peito...
respiras em meu ouvido,
dizendo-me coisas insanas, hereges!
Deixo escorrer entre meus dedos teus cabelos, em plumas,
e sinto, entorpecido, o sal da tua saliva.
Um oceano, onde eu me afogo.
Suspiro em ti e tu em mim,
assim mesmo, em uníssono, numa louca sinfonia.
Leio teu olhar e nos fitamos por um segundo eterno.
Tuas coxas quentes abrigam-se nas minhas,
e teus dedos fincam-se nas minhas costas encurtando nossa distância,
e num momento imodesto, do mais puro pecado,
afloram-se nossos sexos numa explosão universal.


por Guilherme.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

"So I forced my hands in my pockets
and felt with my thumbs,
and gallantly handed her
my very last piece of gum."

A ausência paira no ar. Feito uma nuvem, uma neblina...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Há um perigo imediato.
Um sentimento que urge, ruge, implora meu olhar desatento.
Há um coro de vozes clamando a minha passagem
e um véu invisível me separando de tudo que quero tocar.
Há um telefone histérico que não me deixa dormir
e uma canção que eu não pedi pra escutar.
Há um relógio no horário de verão e eu, mendigo, nem imagino em que estação.
Há um crime a ser investigado e eu sou o principal suspeito.
Há um amigo com um punhal atravessando um caminho estreito.
Há um vulto acampando em meu quarto
e embaixo dos livros nenhum álbum de retratos.
Há um parente apaixonado que mora perto
e um odor sutil de incesto.
Há hipocrisia, um sorriso e há cinismo...
Há um órfão morando em um abismo.
Há um baú de tesouros com um vilão sentado em cima.
Há um herói em um quarto usando heroína.
Há uma flecha fincada no alvo.
E tem o hippie que um dia já foi calvo.
Há uma enorme controvérsia!
E um tapa de fumaça, nada que exija pressa.
Há um "acorde solto no ar", uma mulher de top less.
Sem sol, sem pudor e sem mar.
Há um justiceiro em crise existencial
e um homem que não samba... um corno em potencial.
Há um desastre da natureza, uma erosão, uma tempestade...
Inventaram o niilismo e nenhuma verdade.
Há uma mulher e seu captor.
Há Síndrome de Estocolmo e um drástico amor.
Há um rei, uma rainha e um plebeu.
Há um cidadão exigindo o que é seu.
Há um cético, uma mulher e um Édipo.
Há longas jornadas, honras, méritos...
Há uma impúbere deitada com a mão no sexo.
Há outra mulher que sussurra arrependida: "eu não presto, eu não presto...".
Há um político no limite da loucura.
Para eles: eutanásia, whisky e a cura.
Há ventos, sonhos e um albatroz.

Há um homem a ler o Poeta... A poesia é seu algoz.


por Guilherme.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Deixarei perder-se em mim a tua sombra,
teus segredos em meio a neblina da minha alma.
Descansa em meu ombro.
Há um rei, que, solitário me reina.
Um rei sem súditos, um estranho sem cor.
Até que tu entraste.
Como uma força da natureza,com um ímpeto infantil e descontrolado...
Descansa em meu ombro.
Pois só a tua voz pode calar as vozes que gritam dentro de mim,
e querem romper o silêncio que a insônia me traz.
Tu que trazes nos olhos teu próprio silêncio,
aquele que precede a tragédia.
Descansa em meu ombro,
pois se não for em meu ombro, já não será mais.
Vejo em ti a aurora dos dias não vividos,
como se em meus sonhos, eu conseguisse prever tua vinda
e por alguns instantes,
o mundo todo em meus ombros descansa... feliz.

É isso aí, companheiro. E assim, nos primórdios da vida, Deus criou o amor. Num Big Ben, um insight que teve o nosso Senhor. Fez-se o amor, ainda tímido e acanhado pela juventude. O amor é como o equilibrista caminhando sobre a corda. O amor vive na linha tênue entre o êxtase absoluto da platéia e a tragédia da queda.


por Guilherme.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Vou postar aqui dois versos de autoria de um irmão meu. São poucas palavras, mas para mim, valem mais que ouro.

Seu espírito moleque hoje anda leve, sem carona de pileque.
Pelo mundo vai andando, assobia o moleque malandro.

"Olha aí, ai o meu guri, olha aí!" :)