quarta-feira, 18 de março de 2009

Hoje eu visitei meu antigo lar. O lugar que durante 13 anos eu chamei de lar, onde eu pisava o chão frio com uma familiaridade ímpar. Onde eu espalhava meu brinquedos e tentava em vão alcançar a mesa com meus pequenos dedos nervosos e infantis.
Andei durante uns 20 minutos eternos pelo meu antigo prédio e foi como se fantasmas sussurrassem lembranças no meu ouvido o tempo inteiro. A noite estava misteriosa e em alguns momentos eu até fantasiei uma certa neblina, e por trás dela, eu via minha infância passando em películas. Pés descalços e sujos de terra, joelhos arranhados... carros estacionados e bolas de futebol, num mundo perfeito que eu mesmo havia construído, como aqueles castelos de areia na praia.
Pisei calculadamente na garagem, onde duas garotas de mais ou menos 7 anos brincavam descontraídas, sem nem notar a presença desse fantasma que ali passava, e que um dia já desfrutou da mesma alegria impúbere que elas tinham naquele momento, naquele exato lugar. Elas pulavam distraídas e sorriam, sorriam o mundo das despreocupações e da displiscência da idade. Admito que senti uma ponta de inveja daquelas duas menininhas... despidas da complexidade do mundo adulto e da malícia cruel da "pós-infância". Sou um saudosista profissional...
E assim, caminhei mais alguns metros. Os minutos se arrastavam generosamente, me dando a oportunidade de me deixar ali no meu antigo lar, numa alegria extática. Por alguns momentos, eu transcendi. Por alguns momentos, eu me despedi do presente e submergi nas minhas memórias e lá me deixei afogar.
Então, percebi que chegara minha hora de sair de cena, de voltar ao insípido presente, pois nele me prendo por razões de uma logística igualmente insípida: não posso voltar nos anos. Assim, me despedi das garotinhas lançando-lhes um olhar nostálgico, irônico, de quem sabe que o tempo corre mais rápido do que o relógio indica, e que os ponteiros andam no ritmo que a máquina funciona, pois são apenas paliativos para a dor que nós temos de não poder controlar o passar dos dias.
E com passos de fantasma, ainda atrelado a minha alma de menino, andei lentamente em direção ao portão dizendo baixinho para não perturbar os sonhos de criança que por ali vagavam: "Adeus, garotinhas... adeus".

"may you stay... forever young." Bob Dylan

por Guilherme.

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