segunda-feira, 2 de março de 2009

O Rei

E o instante de desespero
essa noite fez-se infinito.
Chamem o rei dessas terras,
que hoje seu reino vai saber o que é a dor.
E esse rei, que aqui vos fala,
qual um plebeu, derrama seu pranto
e com ele choram todos os seus súditos,
refletindo-se em cada olhar a solidão
que tal qual uma lei,
baixa no coração da realeza.

.

Eu não entendo. Não sei. Não sei o que me faz vir aqui toda noite escrever. Não sei porque escrevo. Sei que todas noites, me desperta um monstro, desentranhado do meu ser. Um monstro que me corrói os sentimentos e me compele para a solidão... meu carma, meu estigma. Eu traço planos, desenho casas e ruas cheias de jardins coloridos. Mas nada disso me pertence. São apenas imagens retiradas de um quadro de Van Gogh ou de um filme de romance. Ahh, os romances...! Acho que sou o legítimo poeta "fingidor" de Fernando Pessoa, que "chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente". Sou um mentiroso. Não creio em mim mesmo, mas discordo daqueles que me desacreditam. Sou hipócrita. Mas amo! Amo muito. Amo com uma violência silenciosa, daquelas arranha o estômago. Sou enfático. Se amo, amo com a certeza daqueles que não têm outra opção e para os quais o amor ainda é o mais amargo remédio. E sofro. Sofro como um mártir que nao cabe a si desenhar seu destino. Sofro porque tenho que sair de casa todo dia no mesmo horário, porque meu carro está sempre na mesma garagem, porque meu telefone nunca muda, porque sempre me ligam as mesmas pessoas, sofro com todas as banalidades do cotidiano. Sei exatamente a hora do dia em que começa a chover, e finjo que esqueci de fechar a janela do meu quarto, só pra deixar molhar. Às vezes, cogito variar os meus pecados, pra ver se não me afogo nesse tédio.
Ah, como me cansam os afazeres do homem mediano que finjo ser!

por Guilherme.

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